quarta-feira, 10 de março de 2010

Bravo, um pouco, tendenciosa.

            No final de semana passado, li uma matéria, da Revista Bravo sobre a relação e amizade entre o escritor colombiano Gabriel Garcia Márques e o ex-presidente cubano Fidel Castro. No começo do texto, achei tudo lindo, aquelas reportagens que faz você reler várias vezes, inclusive tuitei algo sobre isso. Porém, ao ler mais parágrafos, percebi um certo tom de parcialidade no texto feito por André Lahóz. Pois, o autor da reportagem chama o ex-presidente cubano de ditador inúmeras vezes, desde o título que é O escritor e o Ditador.
            Depois disso, a matéria apresenta um tom de crítica ao regime cubano, com a ideia de que mesmo comandando um regime ditatorial o escritor de Cem Anos de Solidão acreditava e concordava com Fidel Castro. Seguindo a mesma lógica, o texto seguinte, na mesma revista, produzido por Sérgio Rodrigues também faz várias críticas a relação entre um escritor renomado e um ditador.
            Entretanto, em nenhum momento os editores da revista tentaram explicar os motivos pelo qual Gabu, como Garcia Márques era conhecido, era amigo de Fidel Castro. Na reportagem, não há referências de possíveis respostas do autor colombiano.
            Reproduzo um trecho do texto que afirma que o vencedor do Nobel da literatura compactua com regimes que não aceitam a opinião pública, além de gerar mortes.

Admirador de primeira hora de Fidel Castro e seu amigo desde meados dos anos 1970, o escritor ilustre veio a se tornar também seu maior avalista internacional - disparado - à medida que o efeito a longo prazo do bloqueio comercial a Cuba e os novos ares políticos do mundo foram convertendo o ex-líder revolucionário romântico num dinossauro político. Essa amizade custou caro ao conceito de Gabo em certos círculos. Sem esconder sua condição de fã, Gerald Martin encara o tema, mas mesmo assim levou cascudos da maioria dos críticos por se abster de julgar seu personagem, jamais se declarando contra um apoio polêmico que não foi retirado nem quando, no episódio dos fuzilamentos de presos políticos cubanos em 1989 - entre eles um amigo de Gabo, o general Arnaldo Ochoa - o mundo intelectual lhe desabou em cima. O ex-amigo e depois inimigo do peito Mario Vargas Llosa deu-lhe um cruel apelido, que pegou: "Lacaio de Fidel". Natural: será sempre alto - e justo - o preço pago por um artista de peso ao endossar um regime ditatorial que passa sentenças de morte por crimes de opinião. Isso não quer dizer que não haja um tipo de coerência na posição de Gabo - e isso o livro de Martin expõe com clareza, ainda que com economia de adjetivos. Os fatos não são menos eloquentes por serem "autorizados".
            Será que é tão complicado conseguir fontes para saber os motivos reais do apoio de Gabriel Garcia Márques a Fidel Castro? Em algum momento o escritor pôde deixar clara a sua opinião? Com o renome, qualidade e inteligência, o colombiano certamente tem motivos para acreditar num regime, não apenas por amizade à família Castro.
            É ruim apresentar uma opinião sem justificar, sem deixar claro ao leitor os reais motivos que levam uma pessoa a tomar determinadas atitudes. A revista Bravo é uma das melhores existentes, hoje, no Brasil. Pois apresenta temas como literatura, cinema, artes plásticas. Entretanto, acho que a matéria sobre a ligação de Gabriel Garcia Márques com Fidel Castro tem um pouco de parcialidade e, não menos, tendenciosa. 

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